5.10.08


Gula ?

Veridiana olhava o prato à sua frente desolada. Duas folhas de alface, um tantinho de cenoura ralada, uma colherzinha de beterraba. Ninguém podia ser feliz com um almoço daqueles. Veridiana era bonita, de uma beleza de chamar atenção, rosto perfeito, pele corada, cabelos claros,enormes olhos verdes. Veridiana tinha 28 anos e pesava 138 kg....Comia compulsivamente e agora tentava parar....

Veridiana vivia sozinha, numa enorme casa herdada da sua avó. Uma casa imponente e decadente, precisando de reforma. Veridiana era sozinha no mundo...Trabalhava de 08 as 20 hs num pequeno "sebo" de livros e objetos antigos. Atendendo à tantas pessoas na livraria um dia conheceu Vermont um jovem belga, pretendente a escritor que estudava linguas mortas na Universidade Federal...Por ele se apaixonou, à ele dedicou compulsivamente seus dias - Veridiana tinha um traço de compulsividade em seu caráter: comia compulsivamente, chorava compulsivamente, lia compulsivamente, amava compulsivamente..Por Vermont, um jovem deus grego, resolveu virar uma moça esguia... Parou de comer....

Veridana olhava o prato desprovido de calorias à sua frente...Chorava e suas lágrimas temperavam aquela cenoura misturada áquela beterraba cor de sangue....Veridiana pensou em cortar os pulsos...Será que seu sangue seria da cor daquela beterraba ? Vermont havia deixado um bilhete dentro do livro que devolveu pela manhã na loja da amada..."Mon cher, je suis de retour à la Belgique, mais croyez-moi, je t`aime pour toujours. Son Vermont."

Veridiana lia e relia aquelas palavras, os olhos embaçados...Se me amava porque havia ido embora ? Veridiana não entendia. Ali, sentada naquele bistrozinho que frequentava há tantos anos trocou a salada temperada com lágrimas por 3 pedaços de torta de nozes, dois cheesburguers, 2 milk -shakes, 1 pedaço de empadão, 2 quibes, 2 pedaços de pizzas e meio litro de refigerante....

Comendo Veridina compensava seu vazio emocional. E depois voltava pra enorme casa pra chorar pela sua compulsividade e pela sua vida que nunca, nunca era como ela desejava....

19 comentários:

Thiago disse...

Ainda bem que não é auto-bibliografico (seria assim que chamamos?!?). 138Kg?!?!??! huahuauha...
Beijos, se cuida...

Janaina disse...

Nossa... eu conheço tantas Veridianas. Em algum sentido, sou uma delas. Fazer algo para esquecer outro algo depois se arrepender da primeira coisa que fez e pensar se tudo seria diferente se você tivesse agido diferente. E o coração da gente ser enorme, e a gente ser enorme, que cabe tanto sentimento que mesmo morando num apartamentozinho bem pequenininho, o lugar parece imenso pro tanto de lugar vazio que tem na gente.

ana. disse...

Escrevi sobre isso.
Isso de partir, de necessitar partir.

E adorei o seu texto.
Boa semana.

Ludmila Prado disse...

somente as pessoas que são complusivas por comida sabe o que é, quando se come se alivia a dor, sente um prazer, é quase tão bom quanto...
o problema é que as consequencias nos deixar fisicamente e psicologicamente pior e entramos num ciclo ficioso, só com muita garra pra se controlar e parar de comer.

texto muitíssimo interessante.

beijos

Jana disse...

Sabe, eu tenho um "q" de Veridiana, não em comer compulsivamente, mas em querer a vida compulsivamente que teima e não ser como eu desejo...

Acho que todos temos uma parte de Veridiana...


É aquela coisa da intensidade que vc falou...

Beijos

Thiago disse...

isso de querer demais e voltar por não ter conseguido aquilo que se quer é tão ruim!

O saudade[1] é sobre o recordar!

:)

Anônimo disse...

Caraca!!
Compulsão demais, dor demais, insegurança demais, baixa estima demais, pobre Veridiana, pobres todas Veridianas que existem por aí.

lindo dia queridAninha
beijos

Lucas disse...

hehe! me lembrou um velho texto meu > http://dreadluc.blogspot.com/2007/06/farto-amor.html

=]

Anônimo disse...

Quantas e quantas historias como a dela existem por ai. Não é facil mudar tanto os habitos alimentares,mas se faz necessario,pro proprio futuro.

beijos,Ana!!

Anônimo disse...

Muito bom !
Aqui no trabalho tem um estagiário que todo dia comia uns 2 pacotes de salgadinhos. Eu comecei a chamá-lo de garoto-saturado e agora ele resolveu trazer um lanchinho + light
;-)

Oliver Pickwick disse...

Há quanto tempo, hein garota? A última vez que nos "vimos" ainda existia dinossauros.
Um conto interessante, com um desfecho melancólico. É por coisas deste tipo que adoto o lema: primeiro, tenho que agradar a mim mesmo.
Um beijo!

Fabio Valentim disse...

Obesidade e Anorexia...

Extremos da beleza e do hábito de comer.
Existem pessoas que comem pra viver e outros, vivem pra comer
Assim como existem muitos que acham que beleza se põe na mesa.


Beijos.

O Profeta disse...

Atravesso o céu em sonhos
Três aves do mar, três raios de sol, três punhais
Seguem-me apontados à solidão
Ah este vento que sopra nos brandais


Vem partilhar comigo uma história real



Mágico beijo

Anônimo disse...

Nossa!!!! Que saudade de você menina!!
Ainda bem que vc voltou... estava fazendo falta, viu?
Beijo grande!

Haya disse...

Meu Deus... depois daquela super pizza de ontem estou indo na mesma direção que ela. Affff!

ana. disse...

Não tem sido exatamente como eu desejo, mas acho que na hora certa (seja ela quem for) eu chego lá.

Beijos.

bsh disse...

Será gula ou carência? Pobre de Veridiana, que vivia tão pouco para a vida e para ela.

Por vezes, os nossos grandes amores partem para bem longe arrancando-nos uma parte de nós.

Parabéns.

http://desabafos-solitarios.blogspot.com/

Anne disse...

Bah, que triste isso! Não sei se é mais triste o pé na bunda ou o fato de ela se tratar dessa forma... acho que ambos! Será q a vida nunca é como a gente quer, ou somos nós que estamos querendo errado? Credo, to mto filosófica hj, que nojo! rsrsrs

Saudade de vc, menina sumida! Bom te ver novamente! Beijossss

Patrícia disse...

Hum me sinto uma Veridiana muitas e muitas vezes...
Faço uma coisa achando que vai ajudar a melhorar o que estou sentindo e logo vejo que só piorou a situação... ai bate o arrependimento, a vontade de voltar atrás e deixar as coisas rolarem sem a minha interferência, talvez assim teria sido muito mais fácil...

Adorei o texto!
Beijos