A Paixão Cega e a Morte Anunciada
Uma poça de sangue vermelho vivo faz um desenho abstrato, metade no chão de tábuas corridas, metade manchando o tapete gasto. A mancha se move lentamente até a porta, como que ainda contendo vida, tornando-se cada vez maior. A angústia da morte muito presente no ar. Nas paredes marcas de mãos arrastadas em desespero, de um corpo que jaz no pátio do prédio e que lutou antes de cair ....
Uma sala mal decorada, pequena, opressiva, com duas colunas mal postas bem no meio do ambiente... Num canto, com rosto alterado, mãos para trás algemadas, um homem jovem olha através da grande vidraça que da para a rua. Pequenos pingos vermelhos caem de suas mãos ensangüentadas. Ele esta estático, como que entorpecido.
Eu sinto o peso da morte e tento escapar pelo pequeno espaço que ficou entre tu, eu e a porta. Ouço os gritos, a discussão, o desespero, as acusações...Aperto os olhos, tudo se confunde, os fatos vem e vão sem ordem.... Me vejo subindo em um só fôlego as escadas em espiral ate teu apartamento, abrindo a porta num ímpeto...Me vejo chorando... Sinto uma dor como que se uma faca entrasse em meu peito, caminho, tento alcançar a janela para respirar, já que o ar me falta....Depois escuridão e me sinto flutuar como que numa queda em câmera lenta...Volto ao momento em que abro a porta do teu apartamento, mas tu já não estavas la, tinhas passado por mim no corredor, cabeça baixa, enquanto uma pessoa estranha te sussurrava algo que eu não consiguia ouvir... Não tinhas me enxergado, possivelmente por estares prestando atenção ao homem. Fiquei parada no meio da sala em desordem, tentando por em ordem meus pensamentos... Só ao sentir o cheiro de tabaco no ar me lembrei de teus dedos a me tocar o rosto onde escorriam lagrimas de ódio, paixão e desespero...O teu toque era trêmulo, tu também havias gritado, chorado, batido os punhos sobre a mesa..Tanta coisa amarga, pesada, trágica havia sido dito naquela sala...Tantos rancores e sentimentos mal resolvidos...Eu não lembrava o desfecho daquela tarde escura....So sei que enquanto chorava por ti em meio a desordem do ambiente, junto à janela, no meio dos vidros partidos, te segui com o olhar. E enquanto tu entravas naquele carro preto e desaparecias naquele dia cinza, que já se transformava em madrugada, minha alma gelava pela certeza que esta seria a última visão que eu teria de ti...Tu partias e eu também...