19.9.12



Sobre Nando Reis e seu disco ( ao som de Cássia Eller que neste momento canta  Segundo Sol no rádio , sem que eu peça ou espere)

Ouvindo bastante as novas músicas  de Nando Reis do novo disco “Sei “. O que sempre me toca a sensibilidade são as cenas  criadas por ele utilizando imagens simples mescladas com melodias  de uma fluidez sincera, pessoal,  melodias e letras que somente ele poderia combinar , casar e trazer à tona,  usando os acordes do violão surrado, arrrumado, amaciado e amado. Os caminho melódicos sempre originais. A obra do autor meio que revelam sua própria forma de viver e ver a vida.

Nessas novas canções  se repetem  as frases que nos remetem a imagens comuns, corriqueiras, contidas em todas as vidas ... Cenas com as quais nos identificamos  e que ele consegue envolver  numa atmosfera poética, feita de versos longos, palavras inesperadas , frases-flores .Versos que se perdem num momento pra depois retornarem ao foco central: sentir. Tal como nós mesmo que por vezes nos perdemos e  retornamos a velhos sentidos e sentimentos...Descrições cotidianas que transformadas em metáforas cheias de possibilidades  nos comovem e nos faz cantar e repetir e levá-las pra nossas vidas. Cenas que vivemos,  gostaríamos de viver ou viveremos um dia. “aeronaves  pousando sem você”... “o perfume conhecido e quase posso lhe ver”....  “mãos apoiadas na borda da piscina” ... Imagens que desenhadas em nossa memória nos levam pra algum lugar dentro de nós ...Fazer do simples, poesia e identificação...Se por um lado uma canção não nos apaixona de cara, ao mesmo tempo com o tempo a gente vai compreendendo ela melhor  e quando o amor se instala a gente já não foge mais de ouvi-la. Canções podem ser como as relações humans. Umas amamos a primeira vista, outras vamos desenvolvendo um afeto maduro.

A obra de Nando é repleta de uma simplicidade e ao mesmo tempo personalidade e beleza e  é sempre atemporal...Tanto que cantamos tem anos e anos as mesmas canções clássicas sem nunca perder e emoção  que se re-inventará  toda vez que  escutarmos ...

A poesia que Nando Reis transporta pra suas músicas  esta repleta de pequenos detalhes. Alguns facilmente compreensíveis, outros sem sentido a primeira vista e ai para nós restam  apenas as conjecturas...E isso é instigante. 

O ato de apertar o doze do elevador, usar um all star igual da pessoa amada, frases originais como associar uma lembrança ruim com a derradeira constatação que”a falta é a morte da esperança”. A desculpa pela ausência, pelos erros cometidos, a vontade de ser diferente e talvez assim ser amado.O despudorado declarar do desejo de estar com a “sua pessoa”. E o fato de ele compartilhar isso com a gente “sabe (o que é isso) ?” – sim, sabemos Nando Reis.

As lembranças de infância muitas vezes confusa noutras vezes nostálgicas e repletas de pormenores  como em   Pré Sal a canção mais forte e tocante e melodicamente complexa  do disco – na minha opinião.  Em suas  canções estão presentes a incapacidade de não sofrer diante de um amor que não evolui como gostaríamos e que todos nós temos em nossa biografia “Nem a dor dessa saudade futura flor que não abriu...talvez um dia possa rolar nos dois juntos no mesmo lugar...”  Dito de um jeito que carrega toda uma marca pessoal e ao mesmo tempo comum ao mundo. “Voltei estou aqui e agora estendo minha mão”

Os discos de Nando Reis são ouvidos, re-ouvidos e mantidos em nossa memória afetiva. A cada nova audição a gente re descobre ou descobre novas nuances, possibilidades. Um misturado e inesperado uso de palavras. Um “eles sabem porque amo seus lábios ” com “camelo lindo que enfeita o maço” ou um “e os caninos afiados daquele garfo”  A gente vai se afeiçoando, criando identificação, decorando os trechos, porque tem o jeito como o Nando diz a música  trazendo em cada frase  profunda verdade. Alguns escritores e outros tantos músicos  tem essa capacidade e a gente nem sabe o porque desse poder de identificação, mas a gente curte e se emociona...Não tem como evitar.